Diante de um cenário de evasão das faculdades privadas, desemprego e mudanças no mercado de trabalho com a digitalização, os cursos de graduação tecnológica, ou tecnólogos, aparecem como instrumento importante para qualificação e empregabilidade dos brasileiros.
De janeiro a dezembro de 2021, a graduação tecnológica registrou 7,3 mil matrículas somente no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Dados da instituição mostram que 8 em cada 10 ex-alunos da modalidade estão empregados e no mercado formal. Em São Paulo, Estado que responde por ¼ das matrículas, o porcentual de ocupação dos egressos chega a 86,3%.
A alternativa ganha importância quando comparada com a formação superior de bacharelado e licenciatura. Um Levantamento do Semesp, instituto que representa as mantenedoras do ensino superior no Brasil, revela que quase 3,5 milhões de alunos evadiram de universidades privadas no Brasil em 2021. A taxa de evasão chegou a 36,6%, a segunda maior de toda a série histórica, ficando atrás apenas do ano de 2020. Inadimplência também cresceu nos últimos dois anos.
Ao avaliar a oferta dos cursos de tecnólogo na América Latina e no Caribe, o Banco Mundial evidencia as diferenças de performance entre quem conclui a formação tecnóloga e quem desiste da graduação tradicional: um egresso da graduação tecnológica tem desempenho acadêmico e no mercado de trabalho melhor que o de alunos que abandonaram cursos de bacharelado. Sua taxa de desemprego é menor (3,8% contra 6,1%), sua taxa de emprego formal é maior (82% contra 67%) e seus salários são, em média, 13% mais altos.
“O tecnólogo é um profissional extremamente importante na indústria, porque ele tem uma formação focada na prática, mas com o aprofundamento e o título de curso superior, como um bacharelado e uma licenciatura”, afirma o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi. Segundo ele, os números comprovam a importância de investir nesse tipo de formação.
Bê-a-bá do tecnólogo
O que é o tecnólogo? Os cursos de graduação tecnológica, cursos superiores de tecnologia ou tecnólogos são cursos de graduação que possibilitam a formação especializada em áreas científicas e tecnológicas.
As vantagens em relação à formação superior tradicional: Duram entre 2 e 3 anos (enquanto o bacharelado e a licenciatura tradicionais levam de 4 a 6 anos), custam menos em relação à graduação de uma faculdade privada, são altamente práticos e têm como objetivo principal formar para o mercado de trabalho.
As diferenças em relação ao curso técnico: Ao contrário do curso técnico, que pode ser feito simultaneamente à escola, para entrar no tecnólogo é preciso ter concluído o Ensino Médio. A formação também é mais longa que o técnico, que dura entre 1 e 2 anos, e os tecnólogos são classificados como ensino superior – sendo aceitos para participação em concursos públicos de nível superior, em cursos de especialização e de pós-graduação.
O que faz um bom curso de graduação tecnológica: contato frequente com o setor produtivo para determinar as habilidades necessárias para o profissional formado, atualização dos currículos de acordo com as novidades e demandas do mercado, professores/instrutores experientes com formação continuada, e infraestrutura.
Matrículas e cursos do Senai
Em 2021, o Senai registrou 7.322 matrículas em 195 cursos de graduação tecnológica. Dos alunos, 81% são do sexo masculino e 19% do sexo feminino. Os Estados com maior número de matrículas:
Os cursos mais procurados: Automação Industrial, Mecatrônica Industrial, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Fabricação Mecânica, Processos Químicos
Panorama nacional
Os dados mais recentes do Ministério da Educação, que abrange a oferta pública e privada, são de 2019. De acordo com o Anuário da Educação Profissional e Tecnológica, do Inep, entre 2015 e 2019 o número de matrículas em cursos de graduação tecnológica saltou de 1 milhão para 1,2 milhão – um crescimento na ordem de 9% ao ano a partir de 2017.
Apesar disso, a participação desse tipo de curso ainda é pequena. Os cursos de graduação são classificados por grau acadêmico: bacharelado, licenciatura e tecnológico, sendo que o último responde por apenas 14,3% das matrículas (bacharelado é 66% e licenciatura 19,7%).
Banco Mundial destaca papel do tecnólogo na América Latina
Pesquisa realizada pelo Banco Mundial mostra que, em toda a América Latina, egressos da graduação tecnológica recebem 60% mais que trabalhadores com ensino médio completo e 25% acima de quem abandonou o bacharelado. Para a pesquisa, foram realizadas 2.100 entrevistas com pessoas do Brasil (estados de São Paulo e Ceará), Colômbia, República Dominicana, Equador e Peru – os cinco países respondem por 54% dos estudantes de cursos de curta duração na América Latina e Caribe.