A Câmara Municipal de São Paulo instalou nesta terça-feira (11) a CPI do Jockey Club de São Paulo. O colegiado irá investigar eventuais irregularidades fiscais e imobiliárias do hipódromo paulista. A comissão também terá o objetivo de apurar a gestão de débitos tributários, alienação de potencial construtivo e possível omissão do Poder Público na situação.
A articulação para criar a comissão ganhou força após denúncias de possíveis irregularidades envolvendo o uso de recursos públicos municipais e federais destinados ao restauro do patrimônio histórico do clube. O Jockey também é alvo de ações de cobrança ligadas a quase R$ 1 bilhão em débitos de tributos municipais, incluindo IPTU.
Em nota, a Câmara afirmou que a criação da CPI foi decidida de forma conjunta pelos líderes em razão da “extrema gravidade das denúncias que envolvem o Jockey Club”.
“Além de dever cerca de R$ 800 milhões em impostos, há suspeitas de má utilização de dinheiro público que deveria ter sido destinado para restauro do patrimônio”.
De acordo com a investigação do portal UOL, foram repassados ao Jockey Club R$ 22,4 milhões pela Lei Rouanet e R$ 61,2 milhões contestados pela Prefeitura de São Paulo. As despesas, apresentadas como justificativa para os repasses, incluem pagamentos a uma construtora fantasma, jantares em restaurantes de luxo com consumo de vinho, despesas em farmácias e até mesmo o aluguel de um equipamento enviado para uma cidade sem qualquer relação com as obras do hipódromo.
No centro da controvérsia está a produtora cultural Elysium, que se tornou a procuradora do Jockey em 2020. Curiosamente, a empresa foi transformada em uma Organização Social de Cultura (OSC) em 2014 3m Goiás. Desde então, a organização experimentou um crescimento exponencial, atingindo o ápice em 2025 com quatro aprovações simultâneas via Lei Rouanet, todas vinculadas ao Jockey Club.
Documentos analisados pela reportagem do UOL demonstram que a Elysium atuou como um eixo central, coordenando o restauro e contratando fornecedores. Subsequentemente, uma série de pagamentos foi direcionada a empresas fantasmas.
Os comprovantes obtidos pelo UOL pintam um quadro de utilização de recursos públicos para custear despesas de natureza pessoal ou, no mínimo, questionáveis. Entre os itens apresentados na prestação da Lei Rouanet estão:
- Compras em farmácias, como chá-mate, sal de frutas e o medicamento Eparema (R$ 21).
- Jantares em restaurantes badalados, como Dom Mariano (R$ 482) e Aze Sushi (R$ 385), com consumo de vinho.
- Uma refeição no requintado Osaka, nos Jardins, com sobremesa e gorjeta (R$ 803).
- Despesas em Goiânia, como dedetização (R$ 200), higienização de tapete (R$ 300), conta de água (R$ 499) e IPTU (R$ 975).
A Elysium, de propriedade dos irmãos Wolney e João Unes, justificou tais gastos como “despesas administrativas”, alegando que a Lei Rouanet permite um limite de 15% para este fim. O MinC, porém, ressalvou que esses custos são permitidos apenas quando estritamente necessários à gestão do projeto e proporcionais a ele.