Marconi Perillo com Wolney e João Unes, da OSC suspeita de desvio de verbas do Jockey Club de São Paulo (Foto: Reprodução)
DESVIO DE VERBAS
Milhões desviados do Jockey Club de SP vieram parar em Goiás; caso envolve Marconi Perillo
Dinheiro desviado do Jockey Club teria vindo em Goiás e a história envolve o presidente nacional do PSDB e ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, e uma Organização Social de Cultura administrada pela família Unes
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atualizado às 15:34
O Jockey Club de São Paulo, clube tradicional às margens do rio Pinheiros com 150 anos de história, recebeu R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais nos últimos sete anos para restaurar sua sede. O recurso veio de programas do governo federal e da Prefeitura de São Paulo, incluindo R$ 22,4 milhões via Lei Rouanet e R$ 61,2 milhões do município. Parte desse dinheiro veio parar em Goiás e a história envolve o presidente nacional do PSDB e ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, e uma Organização Social de Cultura administrada pela família Unes.
Documentos obtidos com exclusividade pelo UOLVer mostram que a prestação de contas do clube inclui notas fiscais que levantam suspeitas de irregularidades. A Prefeitura de São Paulo já rejeitou parte dos registros e determinou auditoria sobre o uso de recursos municipais. O presidente do Jockey Club até 2024 foi Benjamin Steinbruch, empresário que comanda a Companhia Siderírgica Nacional, que contratou assessoria de Marconi Perillo desde que ele deixou o cargo de governador de Goiás.
Entre os pagamentos questionados estão serviços pagos a uma construtora de Goiânia, que só possui presença no Instagram, e despesas pessoais como jantares em restaurantes, farmácias e hotéis em outras cidades. Parte dos valores teria sido destinada a empresas ligadas a parentes de Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB, também sócio e conselheiro do Jockey, que teria indicado a produtora cultural Elysium para coordenar o restauro. Perillo nega qualquer envolvimento.
A Elysium, produtora cultural que se tornou Organização Social de Cultura (OSC) em 2014 por decreto do então governador de Goiás, o próprio Marconi Perillo, desde então assumiu diversos projetos do clube. A empresa também se tornou procuradora do Jockey em 2020 e alcançou quatro aprovações simultâneas pela Lei Rouanet em 2025.
(Foto: Arte/UOL)
Relatórios apontam pagamentos questionáveis a empresas ligadas à família Perillo, como a Sapé Administração e Participações, de propriedade de Débora Perillo, prima de Marconi, que recebeu R$ 2,3 mil pelo aluguel de um gerador enviado para Santo Antôniio de Goieas, cidade sem qualquer relação com o Jockey. Outra construtora citada, a Biapó, confirma a execução de serviços, mas não detalha valores. Há ainda registros de serviços declarados que não teriam sido realizados.
O Ministério da Cultura, em parceria com a gestão municipal, investiga o caso. O Jockey apresentou notas repetidas entre os projetos da lei Rouanet e do TDC, o incentivo municipa de São Paulo, prática considerada irregular por especialistas. Entre os fornecedores declarados, alguns não foram localizados, e endereços apresentados correspondem a imóveis residenciais.
Apesar de investimentos milionários, o restauro do clube avança lentamente. A Tribuna 1, por exemplo, ainda apresenta vidros quebrados, bancos danificados, fiações expostas e buracos no teto, mesmo após R$ 7,7 milhões aplicados da Lei Rouanet. O clube afirma que os processos de prestação de contas estão regulares e critica tentativas de desvalorização do imóvel.
Marconi Perillo afirma que não participou da escolha de fornecedores e que seu vínculo com Débora Perillo, sócia da Elysium, é distante. O MinC afirmou que ainda não identificou inconsistências financeiras graves nos projetos concluídos, enquanto a Elysium defende que despesas administrativas seguem os limites legais da Lei Rouanet e foram aplicadas de forma proporcional.