Brasil, 12 de outubro de 2025
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Economia

Crise tarifária entre EUA e China consolida Brasil como superpotência da soja

O Brasil, já consolidado como superpotência da soja, está ampliando ainda mais seus ganhos com a nova guerra comercial entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a China. O país deve exportar 110 milhões de toneladas em 2025

Publicado em atualizado às 22:56

O Brasil, já consolidado como superpotência da soja, amplia ainda mais seus ganhos com a nova guerra comercial entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a China. O impasse entre as duas maiores economias do mundo levou Pequim a suspender as compras do grão americano, abrindo espaço para uma expansão sem precedentes das exportações brasileiras. A análise foi publicada pela revista The Economist e reproduzida pelo jornal Estado de S. Paulo (leia aqui).

Desde maio, a China — maior compradora mundial de soja — deixou de adquirir o produto dos Estados Unidos em retaliação às tarifas impostas por Trump. A decisão atingiu em cheio os agricultores norte-americanos, especialmente em estados como Illinois, levando o governo de Washington a preparar um pacote emergencial de US$ 10 bilhões para socorrer o setor. Enquanto isso, os produtores brasileiros colhem os frutos: o país deve exportar 110 milhões de toneladas em 2025, um recorde histórico que compensa integralmente as perdas provocadas pelas tarifas impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros, como carne bovina e café.

A crise sino-americana transformou o mercado de soja em um cenário favorável aos exportadores da América do Sul. O que seria um excedente de uma colheita farta converteu-se em um estoque valorizado, consolidando o Brasil como principal fornecedor global do grão para a Ásia e a Europa. De acordo com Marcela Marini, analista do banco holandês Rabobank, o recente boom de investimentos no setor havia causado “uma espécie de ressaca”, mas a nova disputa comercial entre Trump e Xi Jinping funciona como “antídoto perfeito” para manter a rentabilidade do agronegócio brasileiro.

Além do impulso externo, o Brasil conta com vantagens estruturais: área plantada mais extensa que a americana, teor de proteína mais alto e forte demanda interna, estimulada pela indústria de biocombustíveis. “A soja brasileira é mais produtiva e o país ainda dispõe de grande espaço para expansão agrícola”, observa Daniel Furlan Amaral, da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Ainda que os Estados Unidos mantenham certa vantagem em infraestrutura logística, com portos e ferrovias mais desenvolvidos, o intenso programa de obras em andamento no Brasil — sobretudo na região Norte e no Centro-Oeste — tende a reduzir essa diferença nos próximos anos.

Mesmo com a possibilidade de um acordo futuro entre Trump e Xi Jinping, os produtores brasileiros demonstram confiança. O calendário agrícola favorece o país: enquanto os silos norte-americanos estão abarrotados após a colheita do milho, a safra de soja brasileira será colhida apenas em janeiro, momento em que os estoques dos EUA já terão sido escoados.

No longo prazo, analistas apontam que os choques comerciais provocados por Trump apenas aceleraram um movimento inevitável: a ascensão definitiva do Brasil como potência agrícola global — agora, com um protagonismo que vai além da soja e começa a redefinir o equilíbrio do comércio mundial de alimentos.