Em artigo publicado no jornal O Hoje, na terça-feira (12), o advogado e jornalista Nilson Gomes — consultor político do senador Wilder Morais (PL) — afirma que o apoio de prefeitos já enterrou duas candidaturas ao Palácio das Esmeraldas. Ele busca mostrar que uma eventual candidatura de Wilder ao governo do Estado no próximo ano não precisa de apoio dos gestores municipais.
Contudo, a análise parece mais uma muleta retórica para relativizar a pequena base de sustentação do senador nos principais municípios e não encontra sustentação na história. Ao tentar minimizar o peso do apoio municipal, Nilson descreve prefeitos como agentes de perfil oportunista e que exigiriam afinidade pessoal com o candidato.
Mas a realidade eleitoral mostra que, em Goiás, um candidato que conquista ampla adesão de prefeitos tende a reforçar sua presença no interior, garantir capilaridade e, sobretudo, construir vantagem estratégica. Nilson recorreu a dois exemplos para sustentar seu argumento. Ele citou as eleições de 1998 e 2018.
No entanto, ele omitiu que, em 2018, em nenhum momento o então governador José Eliton apareceu como favorito nas pesquisas de intenção de voto, ao contrário do que o texto sugere ao falar em “não restava brecha para erro: estava reeleito com facilidade”. Ao contrário, Eliton angariava todo o desgaste dos mandatos do PSDB em Goiás.
Nilson Gomes também usou 2022 como exemplo. Ele afirmou que Wilder Morais se elegeu senador sem o apoio dos prefeitos. Porém, o consultor deixou de mencionar dois fatores decisivos: Wilder contava com o apoio do então presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e foi beneficiado pela fragmentação de votos entre os demais candidatos ao Senado da base governista — como Alexandre Baldy (PP), Delegado Waldir (União Brasil) e ao menos outros três postulantes de centro-direita — cenário que favoreceu diretamente sua vitória.
Além disso, desde a redemocratização, a ampla maioria dos candidatos eleitos para o governo de Goiás contou com o apoio majoritário dos prefeitos. Vide as conquistas pelo MDB de Iris Rezende e Maguito Vilela, e por três das quatro eleições de Marconi Perillo.
A leitura de Nilson fica ainda mais frágil diante do contexto atual. Em 2024, Wilder trabalhou com a meta de eleger mais de 50 prefeitos, já de olho na sucessão estadual. Acabou muito distante desse número. Sobrou, então, a mudança no discurso sobre o peso de ter apoio majoritário dos prefeitos.
Enquanto a base do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e do vice-governador Daniel Vilela (MDB) reúne mais de 200 prefeitos, o PL de Wilder enfrenta dificuldades para manter algum apoio municipal. Prefeitos que eram da sigla migraram para a base governista e a tendência é que mais líderes municipais façam o mesmo caminho até 2026.
Dessa forma, o artigo de Nilson Gomes, mais do que uma análise isenta, soa como uma construção narrativa para suavizar a dificuldade que Wilder Morais enfrenta em atrair lideranças municipais.