Brasil, 30 de maio de 2025
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Cultura

Morre Sebastião Salgado, o mestre da fotografia que registrou mazelas sociais e ganhou fama internacional

Publicado em atualizado às 14:50

Um dos grandes nomes da fotografia mundial, Sebastião Salgado, morreu nesta sexta-feira (23) na França, aos 81 anos.

Reconhecido internacionalmente, o trabalho de Salgado ficou marcado pelo registro de seres humanos vivendo em condições sub-humanas. Suas fotos denunciaram as mazelas da sociedade em mais de 40 países e chamou a atenção para a importância da justiça social e da preservação do meio ambiente.

Nascido em Aimorés (MG), ele estudou Economia antes de se dedicar à fotografia. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo (1968) e doutor pela Universidade de Paris (1971), ele trabalhava na Organização Internacional do Café, em Londres, quando iniciou o desejo de fotografar. O trabalho exigia muitas viagens à África e Salgado gostava de documentar o que via.

Em 1974, fez seu primeiro trabalho como fotógrafo freelancer para a agência Sygma. Rapidamente se destacou, sendo contratado por outra agência, a Gamma. No final de 1979, Salgado passou a integrar a Magnum, cooperativa que revolucionou a fotografia documental no século 20, fundada por nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa.

Na década de 1980, o fotógrafo já havia se estabelecido o suficiente para financiar projetos pessoais. No livro Outras Américas, de 1986, ele registrou povos indígena de toda a América Latina. Já com a série Trabalhadores, de 1997, documentou o trabalho manual e penoso de indivíduos ao redor do mundo, de minas de enxofre na Indonésia à pesca de atum na Sicília.

Durante a produção da série, Salgado realizou um dos trabalhos pelo qual é mais lembrado: o registro de garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, que revela as condições desumanas em que a extração do ouro ocorria. Uma das imagens da série, a obra Mina de Ouro de Serra Pelada, Estado do Pará, Brasil, foi eleita pelo jornal New York Times como uma das 25 imagens que definem a modernidade.

O fotógrafo também se desdobrou para registrar a vida de migrantes, desabrigados e refugiados nos livros Exôdos e Retratos de Crianças do Êxodo. Para o projeto, ele viajou durante seis anos por mais de 40 países. “Este livro [Êxodos] conta a história da humanidade em trânsito. É uma história perturbadora, pois poucas pessoas abandonam a terra natal por vontade própria”, escreveu ele na introdução da obra.

Em 1994, Salgado fundou a agência Amazonas Images, dedicada ao seu trabalho. A maior floresta brasileira também foi tema de seus trabalhos. O fotógrafo passou seis anos viajando pela região e documentando seus povos, rios, montanhas e animais. As imagens estão reunidas em um livro e foram apresentadas em uma exposição que passou por cidades como Paris, Rio de Janeiro e São Paulo em 2022.

O mineiro foi reconhecido com alguns dos principais prêmios da fotografia mundial, como o Eugene Smith de Fotografia Humanitária, dois Prêmios ICP Infinity de Jornalismo, o Prêmio Erna e Victor Hasselblad e o prêmio de melhor livro de fotografia do ano do Festival Internacional de Arles por Workers por Trabalhadores.

Ele morava em Paris com a mulher, Lélia Wanick Salgado, e deixa dois filhos, Juliano, que nasceu em 1974, e Rodrigo, de 1979. Juliano é cineasta e lançou em 2015, ao lado do diretor Wim Wenders, o documentário O Sal da Terra, que conta a trajetória de seu pai. O longa foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário e recebeu o prêmio César, principal premiação do cinema francês.

Aposentadoria 

No ano passado, o fotógrafo mineiro já havia anunciado sua aposentadoria do trabalho de campo em entrevista ao jornal britânico The Guardian. À época, ele destacou motivos de saúde que o levaram à decisão e afirmou que seguiria com projetos em exposições.

Salgado vivia com sequelas de uma doença sanguínea causada por malária tratada inadequadamente na Indonésia e problemas na coluna causados por uma mina terrestre em Moçam

Ao The Guardian, ele refletiu sobre a morte. “Eu sei que não viverei muito mais. Mas eu não quero viver muito mais. Eu vivi tanto e vi tantas coisas”, disse na ocasião.

O fotógrafo ficou conhecido por seu inconfundível estilo em preto e branco e por capturar a essência humana e natural em seus trabalhos. Sua carreira abrangeu décadas documentando com profundidade guerras, crises humanitárias e as belezas naturais do mundo.