Brasil, 04 de junho de 2025
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Economia

Economia: carnes, café e açúcar devem impactar inflação de alimentos em 2025

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A inflação dos alimentos em 2025 deve ser impactada por uma expectativa de preços mais altos para produtos agropecuários essenciais da cesta básica, como carnes, café e açúcar. De acordo com analistas ouvidos pelo Broadcast Agro, essas commodities, devido a fatores como oferta limitada e custos de produção elevados, são as que mais geram preocupação em relação à pressão inflacionária. As chamadas commodities softs, como o café, e produtos como o leite, também devem experimentar uma inflação intermediária. Já os grãos, como a soja e o milho, devem ter um impacto neutro sobre a inflação, uma vez que a expectativa é de preços estáveis para essas culturas.

Esse cenário inflacionário em 2025 parece seguir a tendência observada no ano anterior, quando a inflação de alimentos se manteve resistente, o que gerou preocupação no governo, principalmente pela pressão que isso exerce sobre a inflação geral. Essa pressão dificulta a redução das taxas de juros, uma das principais ferramentas usadas pelo governo para controlar a inflação. Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a continuidade desse movimento. Os preços de alimentação e bebidas aumentaram pelo quarto mês consecutivo, com a variação de 1,47% em dezembro de 2024, após uma alta de 1,34% em novembro, contribuindo com 0,32 ponto percentual para a taxa de 0,34% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15).

A analista da Tendências Consultoria, Gabriela Faria, destaca que o maior impacto na aceleração da inflação de alimentos deve vir das proteínas. As carnes, especialmente, estão previstas para registrar aumentos significativos nos preços, com uma estimativa de alta de pelo menos 16,6% no valor pago ao produtor. Esse aumento tende a ser repassado para a indústria e, finalmente, para o consumidor. Além disso, o café e o açúcar também devem contribuir para uma pressão inflacionária mais forte, em função de produções limitadas. Por outro lado, o efeito dos preços dos grãos sobre a inflação deve ser mais ameno, já que não se espera grandes variações nas cotações de soja e milho.

A Tendências Consultoria projeta que o IPCA dos alimentos aumentará 9,1% em 2024, com uma redução para 6,2% em 2025, embora com um viés de alta. Faria também aponta outros produtos de atenção para este ano, como óleo de soja, leite e as commodities softs, além de hortaliças, frutas e verduras. Esses itens são suscetíveis a variações climáticas e têm um peso relevante na composição da cesta básica. Nesse sentido, o gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, alerta para a situação das lavouras de hortifrútis, que foram duramente afetadas pela seca histórica do ano passado. A recuperação dessas lavouras deve ser monitorada nos próximos meses, pois eventuais perdas nas plantações podem gerar um impacto momentâneo sobre a inflação desses produtos.

Alves concorda com os outros especialistas de que as carnes e as commodities softs são as que mais preocupam em termos de pressão inflacionária. Além disso, ele observa que a alta dos preços do café ainda não foi totalmente repassada para o varejo, o que pode resultar em novos recordes históricos nos preços dessa commodity. Em relação aos grãos, o especialista destaca que o trigo deve depender fortemente da cotação do dólar, enquanto o arroz tem perspectivas positivas, com uma safra considerada ótima. Já a produção de feijão deve ficar dentro da média histórica.

José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da consultoria MB Agro, destaca o papel fundamental do câmbio na inflação dos alimentos em 2025. Caso o dólar se mantenha acima de R$ 6, a pressão sobre os preços dos produtos agropecuários será maior, o que pode levar a uma política monetária mais restritiva, com juros elevados. Ele também aponta que o cenário fiscal do governo continua gerando incertezas. A falta de medidas fiscais mais concretas pode contribuir para um aumento na pressão inflacionária, especialmente quando somada à sustentação dos preços das commodities agrícolas.

Assim, o cenário para a inflação de alimentos em 2025 é de continuidade de pressões inflacionárias, principalmente devido aos aumentos nas proteínas e commodities softs, e a possibilidade de novos recordes nos preços de produtos como carne e café. A situação das lavouras de hortifrútis e o comportamento do câmbio também são fatores que exigem monitoramento atento, pois podem agravar ou atenuar a pressão sobre a inflação de alimentos ao longo do ano.