O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está desenvolvendo uma estratégia para fortalecer o diálogo entre o governo e o segmento evangélico, buscando também um aceno ao público feminino. Para isso, Lula considera a nomeação de uma mulher da Frente Parlamentar Evangélica para o comando de um ministério estratégico. Segundo fontes do Planalto, essa iniciativa visa solucionar duas questões críticas: melhorar a imagem do governo entre os evangélicos, um eleitorado tradicionalmente resistente ao PT, e sinalizar um compromisso com pautas de inclusão e diversidade de gênero.
Desde o início do mandato, o governo tem mantido canais abertos com lideranças evangélicas, mas nos últimos meses o diálogo se intensificou, principalmente com a aproximação da eleição para a presidência da Câmara e do Senado, marcada para fevereiro de 2025. Essa movimentação ocorre em meio a planos para uma reforma ministerial, planejada para ajustar a equipe com as novas forças políticas que emergirão após as eleições municipais de 2024. Lula quer consolidar um time que não apenas represente a nova configuração do Congresso, mas que também possa fortalecer alianças para uma possível candidatura em 2026.
A escolha de uma liderança evangélica para um cargo de destaque é também uma tentativa de estabelecer uma ponte com um segmento que representa cerca de 30% da população e que tem se mostrado decisivo em disputas eleitorais. Entre os nomes cogitados no Planalto estão a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) e o pastor Ronaldo Fonseca (PSD), ex-ministro. Eliziane Gama, em particular, se destaca como uma figura de consenso e poderia contribuir para atrair votos entre o eleitorado evangélico feminino, que tem mostrado certa resistência ao governo.
Especula-se que o Ministério do Desenvolvimento Social, atualmente sob o comando de Wellington Dias (PT), esteja na mira das negociações, já que abriga o programa Bolsa Família, uma vitrine do governo que alcança milhões de famílias brasileiras. No entanto, há resistências: o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), declarou que o grupo não está alinhado automaticamente com o governo. Ele reforçou que, para além de conversas, são necessárias mudanças práticas, criticando certas iniciativas governamentais relacionadas à educação e saúde que, segundo ele, não refletem as prioridades do segmento evangélico.
Ao buscar uma aproximação política com os evangélicos, o governo de Lula tenta quebrar a hegemonia conservadora neste eleitorado religioso e ampliar sua base de apoio para 2026. O desafio, no entanto, será equilibrar as pautas progressistas do PT com as demandas e preocupações dos evangélicos, em especial no que se refere a temas como a educação, os direitos reprodutivos e os valores familiares.