A comercialização e posterior tentativa de recuperação das joias sauditas contaram com um esquema e trapalhadas que ajudaram a PF (Polícia Federal) avançar nas investigações.
Segundo o relatório final do inquérito, tornado público na segunda-feira, 8, ex-auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram ao exterior para recuperar as joias sauditas. Isso aconteceu após o TCU (Tribunal de Conta da União) determinar a devolução dos itens para o acervo da Presidência da República.
Trocas de mensagens analisadas pela PF mostram que o ex-presidente e seus ex-auxiliares temiam que a venda das joias fosse descoberta. Além disso, a corporação identificou que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, excluiu algumas mensagens que havia trocado com o ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara.
Apesar disso, Cid tinha enviado o mesmo conteúdo para uma outra conta pessoal no aplicativo de troca de mensagens. A PF descobriu e constatou que tratavam-se de fotos do kit de ouro branco e certificado de autenticidade das joias. “O cuidado em excluir as fotos do chat privado demonstra que os investigados não queriam deixar rastros sobre o motivo da conversa”, afirmou a corporação.
A conversa entre Cid e Câmara mostram que ambos tinham medo de que o esquema fosse descoberto, “pois os bens de alto valor, ao contrário do que estava sendo dito, não estavam no Brasil”, completou a PF.
Depois, a corporação constatou nas trocas de mensagem entre Mauro Cid e seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, uma imagem em que mostra o militar no reflexo de um vidro durante a negociação da venda das joias sauditas.
O advogado de Bolsonaro Frederick Wassef foi até a Flórida, nos Estados Unidos, para comprar de volta um relógio Rolex que havia sido vendido pelo ex-mandatário. O intuito é trazer o objeto de volta ao Brasil e devolvê-lo ao TCU.
Durante sua passagem, o ex-advogado teria se escondido atrás de um poste para que sua passagem por terras norte-americanas não fosse identificada. Além disso, ele se encontrou com Bolsonaro e, depois, desabafou por áudios com a namorada sobre assédios de seguidores do ex-presidente. “Era assim: um bolinho de gente lá tirando foto com ele, outro bolo igual tirando foto comigo, foi a coisa mais louca que eu vi na minha vida, cara. Isso do… isso porque eu tava do outro lado da calçada. De escondidinho, atrás de um poste para não ser visto, mas não teve jeito. Pu*a que pariu! Fo**u!
Ele também solicitou um assento escondido no voo aos EUA para não ser identificado. “Eu quero ficar colado. Cabeça, minha cabeça colada na fuselagem, deu pra entender? Ou seja, o banco, ele tem que tá… ele tem que tá deitado assim: com a cabeça apoiada no banco e na fuselagem, na parede do avião, olhando pra janelinha. É bem o contrário. Por favor! Porque, senão, aqueles banco é (sic) uma porcaria, tua cabeça fica no corredor, todo mundo passa, esbarra, olha pra tua cara e eu não posso, cara. Eu sou público, eu tenho que tá escondidinho ali”, disse um trecho do relatório da PF.
“Conforme já relatado, a contextualização das trocas de mensagens entre Mauro Cid e Marcelo Câmara revelou que os investigados estavam preocupados em recuperar os bens. Em um primeiro momento devido à ciência de que a venda de itens do acervo no exterior não era permitida devido à preferência de compra da União. Depois, a preocupação se intensifica devido a matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em 03 de março de 2023, que provocou decisões do TCU para que os objetos fossem devolvidos ao Estado brasileiro”, completou a corporação.