Em discurso bem colocado e sem margem para improvisos polêmicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu democracia e criticou o “ultraliberalismo” e o “nacionalismo arcaico” durante uma cúpula do Mercosul. A fala foi interpretada como resposta direcionada às posições do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, sobre integração regional e políticas econômicas.
Lula delineou sua visão para o Mercosul durante a cúpula do bloco, enfatizando a necessidade de maior ambição climática e desenvolvimento sustentável. Lula pediu que o Mercosul “apresente uma visão coletiva sobre o desafio do desenvolvimento sustentável”, destacando a urgência de enfrentar a crise climática.
Ele também defendeu a soberania do bloco na governança de dados, sugerindo uma abordagem mais integrada para os desafios regionais. Além disso, Lula reconheceu a necessidade de modernizar o Mercosul, propondo uma integração mais profunda em setores-chave como as indústrias automotiva e de açúcar para aumentar a competitividade e relevância do bloco na economia global.
A ascensão do ultraliberalismo na América Latina pode ser rastreada até a implementação de políticas neoliberais na região durante o final dos anos 1980 e 1990, conhecidas como o Consenso de Washington. Essa abordagem, promovida por organizações multilaterais como o FMI e o Banco Mundial, defendia a disciplina fiscal, privatização e liberalização do mercado. Embora inicialmente visassem resolver desafios econômicos, essas políticas levaram ao aumento da desigualdade e da pobreza em muitos países latino-americanos. Os resultados mistos das reformas neoliberais, juntamente com choques econômicos externos, contribuíram para mudanças políticas e a emergência de governos de esquerda no início dos anos 2000. No entanto, o pêndulo recentemente voltou em alguns países, com figuras como o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, defendendo políticas extremas de livre mercado, provocando críticas de líderes como o presidente do Brasil, Lula, que alertam contra os potenciais impactos negativos do “ultraliberalismo” na integração regional e no bem-estar social.
O nacionalismo continua a moldar a política global no século XXI, adaptando-se aos novos desafios impostos pela globalização, integração regional e redes transnacionais. O nacionalismo contemporâneo se manifesta de várias formas, desde movimentos subestatais buscando autonomia até sentimentos reacionários anti-imigração. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma mudança dentro do Partido Republicano em direção a um nacionalismo mais centrado na identidade, frequentemente entrelaçado com ideologias cristãs ou nacionalistas brancas. Essa tendência é exemplificada por figuras como o ex-presidente Donald Trump e alguns novos nomes do Partido Republicano que defendem o nacionalismo como uma identidade central do partido. Enquanto isso, em outras partes do mundo, movimentos nacionalistas estão reinterpretando conceitos como autodeterminação e soberania no contexto de um cenário global cada vez mais interconectado. O ressurgimento de sentimentos nacionalistas, às vezes rotulados como “neonacionalismo”, despertou um renovado interesse acadêmico em distinguir entre nacionalismo estatal e nacionalismo cultural, cada um com visões e ideais distintos.