A Terra demorou até 1800 da Era Cristã para abrigar 1 bilhão de habitantes. No início de 2023, Flowers, da norte-americana Miley Cyrus, precisou de míseros 112 dias para bater 1 bilhão de reproduções no Spotify.
No YouTube, mais de 300 canções superam essa marca. A campeã é Despacito, do porto-riquenho Luis Fonsi, a caminho de 9 bilhões de visualizações, ultrapassando o número de habitantes do planeta (8 bilhões), que em 1961 o soviético Iuri Gagarin voltou do espaço confirmando ser azul.
Sou capaz de apreciar bandas, cantores e instrumentistas que gosto durante 20 horas seguidas. De preferência, no vinil. Ainda não inventaram melhor tratamento antecipado aos maiores males desses tempos: estresse, depressão e ansiedade.
Sou testemunha de sua eficácia, além de profilática, curativa. Sofri com os 3 em abstinência de música e me livrei graças aos velhos discos e gramofones. Estudos confirmam que os efeito combate igualmente doenças em rins e coração, contra câncer, alzheimer, demência e outras.
A indústria da música também é essencial à saúde econômica. Em 2022, Amazon, Apple Music, Deezer e Spotify giraram R$ 2,2 bilhões no Brasil. Somam-se outras plataformas, aplicativos, rádios, TVs, streaming e o faturamento da indústria de eventos.
O bar vegeta sob moscas, alguém passa a afinar o violão, logo começa a chegar a plateia, os timbres povoam o ambiente, as mesas ficam lotadas, consumo de alimentos e bebidas, empregos garantidos.
Sem contraindicações, a música é diretamente ligada aos costumes, comportamento, à rotina e a evitá-la. Sua poesia, independe de versos e, quando deles dispõe, a maravilha se amplia.
Daí, a utilidade que vai da cultura à segurança pública e serve até de controle social ou de descontrole total. É prevenção ao uso de entorpecentes e à violência quando os poderes investem em atividades musicais e sua consequência, a dança. Aulas de sopro e corda, metais e percussão, canto e coreografia. O coro da igreja, o grupo que ensaia na garagem, a dupla que se arrisca no rodeio, o jovem que sonha com os palcos. Talvez não se consagrem artistas, mas serão sempre um sucesso com quem conviverem.
Sim, certos sons são relacionados a drogas. Não pela ruindade, mas porque alguns usuários os unem, como o reggae e a maconha. Tão injusto quanto dizer que modão raiz é de quem masca fumo de rolo. Há quem associe funk, rap e hip hop à marginalidade. Preconceituoso como afirmar que orquestra sinfônica é para nerd. Ou que as baladas românticas se restringem a bregas. E o sertanejo universitário a agroboys.
Alheio aos estereótipos vaga o ar que se respira e, em determinados festivais no meio da poeira, dá quase para pegar na mão.
A Nasa e suas assemelhadas preparam a volta de voos tripulados à lua, que não tem ar e é azul, como Gagarin não falou por não ter ido lá, mas está em “Blue moon”, de Lorenz Hart (letra) e Richard Rodgers (arranjos), gravada pelo dream team celebrado pelos tímpanos, de Ella Fitzgerald a Frank Sinatra e Elvis Presley, de Eric Clapton a The Mavericks e Amália Rodrigues (a fabulosa fadista portuguesa), passando por Bob Dylan, Cyndi Lauper e Rod Stewart.
Então, se a música determinou, moon é mesmo blue, não só nas raras duas luas cheias no mês.
Sem ar para transmitir as ondas, sem música. O espaço inteiro é assim. Portanto, não há a menor hipótese de existir vida fora da Terra. Se houver, é uma vidinha super tediosa, porque um item insuperável é ter ar para se respirar uma MPB bem tocada, bem cantada, bem composta.
Uma brasileira da Nasa “acordou” uma engenhoca em Marte com uma criação de Tom Jobim. Os kits lançados para o extraterrestre pegar geralmente tem música. Se o ET não entender do que se trata, mostra que realmente só há vida inteligente aqui, pode continuar pedalando no filme do Spielberg e não retornar nem se ela furar o pneu, que estará sem ar.
Baby Consuelo gravou “Todo dia era dia do Índio”, de Jorge Ben, em 1981. De lá pra cá, os 3 mudaram de nome:
Séculos antes do politicamente correto, os indígenas nacionais davam show de música e dança, animados como nunca foram seus vizinhos latinos incas, astecas e maias. Não tinha como manter os pés nos chão: o outro povo que nos formou, o africano, mesmo vítima de atrocidades mortais, semeou seus sons e sua ginga.
Na última 6ª feira (19.abr.2024), Dia dos Povos Indígenas, a norte-americana Taylor Swift lançou seu 11º álbum: “TTD: The tortured poets department“—os EUA adoram sigla, inclusive USA.
Quando amanheceu sábado na Costa Leste, já haviam sido vendidas 700 mil cópias de vinil —de vinil! 700 mil discos só de vinil! Que celestial, meu Jesus amado! Essa floresta de exclamações mitiga o deserto de esperança que enfrentei há pouco.
Mantenho um acervo com uns 20.000 vinis. Desde que inventaram o CD, me perguntam quando eu jogaria no lixo essa preciosidade toda. Joguei-a foi para dentro do organismo curtindo seus chiados, trocando a agulha, louvando a Deus pela carnaúba e vibrando porque a humanidade tem jeito graças aos milagres coletivos.
Como o de a gente nem saber o que Taylor está cantando e amar cada sílaba. E esse de os falantes de espanhol serem, segundo Instituto Cervantes, 600 milhões, mas “Despacito” ter 9 bilhões players em uma única plataforma.
O departamento de poetas torturados conquistou um inscrito. Torturado nem tanto, poeta bem menos, mas um swiftie, uma das palavras do ano de 2023 escolhidas pela Universidade Oxford, na Inglaterra. Significa fã da Taylor Swift, assim como sou cartolie (tiete do mestre Cartola), caetanie (do Caetano também), miltonnascimentie etc.
Enquanto isso, TTPD quebrou o recorde de 300 milhões de reproduções em um dia; 1,6 milhão em vinil de discos vendidos antes de o sol passar a bola para a lua. Ou seja, vai continuar havendo vida na Terra. Uma vida animada, feliz e ouvindo som de qualidade.