Da mesma forma que milhões de estudantes, professores e profissionais do direito, o 1º encontro que tive com Michel Temer foi em livros de sua autoria. Os recentes contatos têm sido pelas notícias de absolvições num escândalo em que o enredaram, o petrolão, o feixe de atentados à moral alheia ajeitado para dar mandato de senador a um juiz e de deputado federal a um procurador da República.
No caso de Temer, foi isso e muito mais. O advogado culto que entrou na política e a qualificou teve a carreira impecável abatida no auge pela operação Lava Jato, inicialmente com a pocilga em Curitiba, depois com o lamaçal no Rio de Janeiro.
Temer herdou um país em convulsão, no 3º ano seguido de protestos generalizados, 7.439 obras paralisadas, 80% das famílias endividadas e desemprego em 12%. Difícil reagir com a maior carga tributária do planeta, a indústria fulminada pelo sucateamento e um olimpo no Paraná expelindo deuses a satanizar os maiores empresários produtores de riquezas da América do Sul.
Havia urgência para reerguer a nação e Temer pôs mãos à obra. Obra para todo lado. No entanto, a Lava Jato demolia sua equipe. A eficiência do auxiliar se media proporcionalmente aos petardos provenientes da operação. Era o ministro se destacar e ter o destino amputado pelo tridente da força-tarefa liderada por Sergio Moro, então incensado por mídia, formadores de opinião e culpados-úteis manipulados pelo escritório do crime.
Dia sim, outro também, enxovalhava-se a honra dos componentes da Esplanada. Obedecia-se ao rito de denúncia hoje, à delação amanhã e, em seguida, algemas e cárcere. Faltava o alvo pretendido. Ele. Temer.
Os vilipendiadores da moral alheia cevaram de bagrinhos a tubarões com promessa de penas mínimas, desde que entregassem os visados pela gangue de toga. Em busca de prêmios, os delatores falsificavam provas e suas palavras, ensaiadas pelo escritório do delito, eram súmulas vinculantes do mal. Deduravam agora e daqui a minutos os absurdos que diziam estampavam ordens de busca, sequestro e prisão.
O presidente Lula tornou-se lamentado erro judiciário, porém, foi tão vítima quanto Temer. Por defeitos da Lava Jato, ambos não puderam ser candidatos ao Planalto em 2018, Lula por estar preso, Temer por ter sido retalhado sem anestesia. As chagas permanecem em aberto, porque as vidas destroçadas seguem sob domínio de depressão, falência e outros efeitos. Sequer se fala nas indenizações, que não haverão de harmonizar as cicatrizes, mas servirão para reconhecer e reparar.
Apesar do reinado do relho da República de Curitiba, o governo Temer corrigia os erros de gestões deletérias anteriores. Consertava as contas públicas. Fazia 1.500 casas e apartamentos por dia, todos os dias. Como a orcrim de Curitiba não lhe dava sossego, sua popularidade era baixa. Lula, mesmo em cana, liderava as pesquisas; Temer, mesmo no palácio, ficava atrás inclusive de figuras alheias ao sucesso no Executivo –e duas delas iriam para o 2º turno.
Ainda sob fogo cerrado de Moro e áulicos, não só os de MPF e imprensa, Temer se sobressaía. A inflação anual despencou de quase 10% para menos de 3%. Reduziu os juros anuais a 6,5%. Desonerou a produção. A reforma trabalhista permitiu ampliar vagas. Financiou faculdade para 300 mil novos universitários a cada ano.
Quando assumiu, 2 milhões de residências vulneráveis à fome padeciam sem Bolsa Família e outro tanto de fraudadores sacavam indevidamente o benefício. Temer zerou a fila dos necessitados e partiu para cima dos fraudadores. Implantou projeto que deveria não só ter sobrevivido, mas ser prioridade, o Progredir, porta de saída dos programas sociais ao articular parceria com o setor privado para dar oportunidade aos filhos das bolsistas.
Desde D. Pedro 2º, diversos se vangloriam de minorar as consequências da seca para os nordestinos transpondo as águas do rio São Francisco. Discreto e alheio à lacração, Temer é o construtor campeão do Velho Chico: “Concluímos o Eixo Leste, que levou água para a Paraíba e boa parte de Pernambuco”. Em 30 meses, terminou também o Eixo Norte, servindo Ceará, Pernambuco e Rio Grande Norte.
Produtores rurais de Norte a Sul foram agraciados por Temer para o financiamento ao maquinário. Aumentou em 1.000% a quantidade de títulos da reforma agrária para quem realmente trabalha na terra, não para invasores e outros arruaceiros. Pequenos e microempreendedores conquistaram incentivos.
Outro legado de Temer foi indicar ao Supremo Tribunal Federal um constitucionalista de 1ª categoria, Alexandre de Moraes, celebrado doutrinador que, portanto, preencheu os requisitos de reputação ilibada e notável saber jurídico.
As vitórias administrativas de Temer ocorriam graças a esforço e competência, porque tranquilidade era zero. Brotava pedido de impeachment de manhã, à tarde, à noite e de madrugada. Miquinhos amestrados pelos chefões da Lava Jato tentaram de tudo para impedir até a tentativa de reeleição. Conseguiram. Pós-Presidência, Temer chegou a ser sequestrado no meio da rua a mando do covil carioca da força-tarefa.
Porém, o castigo está vindo a cavalo –enfim, dando coice no rumo certo. O juiz federal Marcelo Bretas caiu em desgraça. O procurador Deltan Dallagnol, que almejou manusear R$ 2,5 bilhões da Petrobras, virou pedinte de dinheiro público via partido, saiu do MPF e foi saído do Congresso Nacional, destino reservado a seu dono na Lava Jato, não por perseguição da esquerda (já sofri e sei que é implacável) ou omissão da direita (que não é solidária nem no câncer), mas na área judicial. As manchetes que aterrorizam Moro sorriem para quem ele tentou destruir.
E Temer? Continua cada vez mais consultado, respeitado, querido e, aproveitando o inescapável trocadilho do nome, sem nada a temer.