A Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) realizou sessão solene para a entrega da Comenda Washington Novaes à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Proposta pelo deputado Antônio Gomide (PT), a solenidade foi presidida pelo presidente da Casa, Bruno Peixoto (UB), e prestigiada por deputados estaduais e autoridades, entre elas, a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) de Goiás, Andréa Vulcanis.
O propositor da homenagem abriu os discursos da tribuna. “É uma honra para essa Casa de Leis receber nossa digníssima ministra do Meio Ambiente. Ministra essa que é uma referência do trabalho e do legado que Washington Novaes deixou para todos nós no Brasil. A Assembleia Legislativa faz jus ao trabalho desempenhado por Vossa Excelência em favor da preservação de nossos biomas”, frisou.
Gomide evidenciou, também, a importância da homenagem. “Essa Casa escolheu com sabedoria o nome do jornalista Washington Novaes para honrar os defensores do meio ambiente com a comenda que leva o seu nome. Washington inspirou a todos nós, recebeu reconhecimento internacional e o seu legado tem continuidade no trabalho de agentes públicos, como a ministra Marina”.
Em seguida, o deputado parabenizou Marina Silva pela convocação de 270 aprovados no cadastro de reserva do concurso do Ibama e salientou que a solenidade na Casa de Leis é um momento de reconhecimento, mas também uma oportunidade para “trazer luz” à questão ambiental em Goiás.
“O Cerrado, como bem a senhora sabe, é o segundo maior bioma do Brasil e em Goiás, 70% do nosso território é coberto por esse bioma”, destacou, com a ressalva de esse ser, entretanto, também um dos biomas mais agredidos por queimadas e, principalmente, o desmatamento.
Antônio Gomide destacou, ainda, a contribuição hídrica do Cerrado goiano, responsável pela formação das três principais bacias hidrográficas brasileiras. “Por esse motivo, é chamado de “a caixa d”água do Brasil””, pontuou o deputado. “É por essa constatação que se faz necessário manter acesa a chama do jornalista Washington Novaes, homenageando os protetores da natureza e da biodiversidade do nosso País, pois sem o Cerrado, não terá água e sem água não haverá nem agricultura e nem vida”, salientou.
Por fim, o autor da iniciativa frisou a importância em levar a conscientização para a preservação do bioma a todo o País. “Precisamos sensibilizar a comunidade internacional a investir também na preservação do Cerrado, pois os nossos ecossistemas estão todos interligados. Estejamos todos nós prontos para esse novo tempo de mudança”, ponderou, com a afirmativa de, assim como fez Washington Novaes, ser necessário incentivar o debate preservacionista, expandindo o conhecimento a respeito da temática.
Marina Silva
Após receber do presidente Bruno Peixoto a Comenda Jornalista Washington Novaes, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima no Brasil falou ao público goiano a partir do púlpito do Plenário.
“Às vezes, receber homenagem fora do nosso País é motivo de muito orgulho, mas dentro do próprio país não é mais fácil, porque é aqui que a gente tem que viver as contradições, contrariar interesses, ainda mais quando se trata de uma agenda como a do meio ambiente”, discursou a Ministra, que manteve a comenda no pescoço durante seu discurso.
Marina disse que, no seu trabalho anterior como ministra do Meio Ambiente, entre 2003 e 2008, receber de Washington Novaes “uma pequena frase de reconhecimento era motivo de muita celebração”. Ela se referiu ao jornalista como “alguém que nos dava um feedback muito profundo. Era muito respeitado, mas, por contrariar interesses, não era com certeza uma unanimidade”. Washington, a ministra prosseguiu, não teria deixado uma herança, que “diminuiu quando dividida”, e sim um legado, que “quanto mais compartilhado, mais cresce”.
Com vasta experiência em causas ambientais, Washington Novaes foi secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal nos anos 1990 e autor de livros e documentários sobre o tema. Natural do interior de São Paulo e radicado em Goiás, faleceu em 2020 em Aparecida de Goiânia.
A Ministra afirmou que gostaria que Novaes houvesse “assistido, no Pará, à Cúpula da Amazônia, com os oito países que compartilham a floresta”, depois de 14 anos sem esse tipo de reunião. A Cúpula, sublinhou, envolveu uma articulação de 27 mil pessoas da sociedade civil e também a participação de “potências florestais” como Indonésia e República Democrática do Congo. “Tenho certeza de que ele ficaria feliz como eu ficaria”, disse.
Marina Silva destacou em seguida a importância do Cerrado, ressalvando “não haver um bioma maior que outro”. Ela afirmou estar em elaboração um plano de prevenção e controle do desmatamento do Cerrado. “Em função do desmatamento desse bioma nós já estamos retardando o período chuvoso, como na região do Matobipa, em 50 dias. Já tivemos uma redução da superfície hídrica do nosso país em 15%”, complementou.
“Hoje nós temos consciência de que podemos ser diferentes coisas: ser uma potência agrícola e uma potência hídrica e florestal”, prosseguiu a Ministra. “Em um país de 8 milhões de km2 tem lugar para o agronegócio, para os extrativistas, para a indústria, para todo mundo. O que é preciso é, dessa vez, criar um novo ciclo de prosperidade, que não deixe ninguém para trás”.
Marina Silva disse ver no Brasil hoje uma grande oportunidade de que a luta da sustentabilidade não seja de esquerda nem de direita, abrangendo os mais diversos tipos de pessoas. “Esse é um momento em que ninguém vai conseguir fazer as coisas sozinho, e posso dizer que no Ministério do Meio Ambiente a gente trabalha exatamente desse jeito”, concluiu.
Oradores
A secretária de Estado de Meio Ambiente, Andréa Vulcanis, iniciou sua fala recordando ter “trabalhado e aprendido muito” – quando estava à frente da Procuradoria-Geral do Ibama – por três anos com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima no Brasil, Marina Silva.
Andréa ainda fez um registro significativo. “Pela primeira vez, estou em uma mesa onde a maioria é composta por mulheres. Grandes mulheres que estão trabalhando no nosso País, pela preservação do meio ambiente, para tornarmos um País mais justo, mais igualitário”, disse.
Ela falou sobre a luta pela justiça social, pela igualdade, por um meio ambiente mais íntegro, equilibrado e sustentável. “Talvez pulsando aqui, no coração do Brasil, um novo momento, em que possamos nos desenvolver juntos apoiando essa causa tão relevante e importante para todos nós”, disse.
Vulcanis colocou que, ao longo dos 4 anos e meio de gestão do governo Ronaldo Caiado (UB), foi ampliado em mais de 1.500% a fiscalização ambiental, ou seja, isso resulta em quase 80% de todos os alertas de desmatamento do cerrado já fiscalizados. Foi pautado também sobre o programa de revitalização de bacias e recuperação ambiental em andamento, que é o “Juntos Pelo Araguaia”, e que há um esforço no licenciamento ambiental. “E tantos outros resultados que nos impõe muita alegria em dizer que o governador Ronaldo Caiado possui a agenda de meio ambiente mais íntegra e integrada na história de Goiás”, frisou ao acrescentar a importância da Casa de Leis na execução de todas as ações.
Ao finalizar sua fala, a secretária disse que todos os resultados relacionados ao meio ambiente, no Estado, foram “fazendo pontes com o Legislativo, com o setor produtivo”.
A professora da UFG, Elaine Barbosa da Silva, responsável pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento de Goiás, esclareceu aos presentes a situação ambiental observada no Cerrado. Ao discursar, a técnica chamou atenção para o avanço do desmatamento e ressaltou a importância e necessidade de ações voltadas à preservação desse “importante bioma”.
“Estou aqui em nome da Universidade Federal de Goiás [UFG] e do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento para colocar à disposição dessa Casa e da senhora ministra tudo aquilo que temos feito em prol do nosso cerrado”, introduziu Elaine. Ela rememorou que o trabalho de monitoramento do bioma foi iniciado ainda no ano 2000 e que, de lá para cá, o que se vê é um avanço do desmatamento em solo goiano.
“Nos anos de 1990, tínhamos mais de 65% da área total preservada. No último mapeamento vemos que essas áreas não chegam a 50%. Já tínhamos poucos remanescentes e agora essas áreas seguem com uma fragmentação ainda maior”, disse.
Os estudos feitos pela equipe técnica levam a crer que o desmatamento tende a caminhar para a região Norte do Estado. “Estamos falando de uma área que era justamente a mais protegida, a região da Chapada dos Veadeiros. Nos últimos 20 anos tivemos em Goiás mais de 47 mil km² de desmatamento. Esse índice é muito alto para um estado localizado no centro do bioma como o nosso”.
Por fim, a técnica considerou que apenas por meio do conhecimento, aliado à ciência e à tecnologia será possível promover a união de forças e atuar de maneira efetiva no combate ao desmatamento ilegal e a preservação.
Visita ao Palácio Maguito Vilela
Mais cedo, a ministra Marina Silva foi recebida pelo presidente da Alego, deputado Bruno Peixoto, pela presidente da Comissão do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rosângela Rezende (Agir), e pelos três deputados estaduais do PT na Casa de Leis goiana, Antônio Gomide, Bia de Lima e Mauro Rubem. Autor da propositura de homenagem à ministra, o deputado petista está à frente, na Alego, da Frente Parlamentar em Defesa da Chapada dos Veadeiros e da Frente Parlamentar em Defesa do Cerrado.