Brasil, 06 de outubro de 2024
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Economia

Agroindústria carece de mão de obra, energia e política de incentivos, reclama Zé Garrote na Fieg

Publicado em atualizado em 19/08/2022 às 10:39

Faltam gente, energia elétrica e políticas públicas para incentivo à industrialização. A reclamação sobre essas três demandas prementes da agroindústria goiana foi feita pelo empresário José Carlos Garrote, líder do grupo São Salvador Alimentos (SSA), em palestra promovida quinta-feira (18/08) pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), na Casa da Indústria. O debate integrou pauta da reunião do Conselho Temático da Agroindústria (CTA) da entidade, dirigido pelo empresário Marduk Duarte, e contou com participação do presidente da Fieg, Sandro Mabel e de empresários e conselheiros do colegiado.

“Temos um déficit de 800 colaboradores e mantemos um programa permanente de contratação com 300 vagas abertas. Queremos contratar, mas não tem pessoal disponível para acompanhar o crescimento da empresa”, desabafou Garrote sobre a carência de mão de obra.

Segundo o empresário, o cenário na agroindústria goiana é de excesso de emprego e falta de pessoas, na contramão do crescimento e desenvolvimento do setor. “Hoje, nosso calcanhar de Aquiles é a falta de gente. É enorme a dificuldade que temos para encontrar pessoas que queiram trabalhar”, afirmou, destacando que esse é um problema estrutural na educação de toda uma geração. “Nossos jovens de hoje são muito imediatistas. Investimos, treinamos, mas faltam paciência e diligência para crescer na empresa. Temos um turnover (rotatividade) muito alto.”

Como parte da solução, a SSA vem investindo em recrutamento e treinamento de pessoal, em parceria com o Senai Goiás, em diversas frentes de qualificação e que deve ser ampliada com projeto customizado, visando suprir o déficit de 800 profissionais nas plantas da indústria em Itaberaí e Nova Veneza.

“Precisamos criar condições para atrair pessoas e a Fieg e o Senai têm sido grandes parceiros nossos nessa qualificação”, destacou Garrote, ao ressaltar que investir em educação é a solução, mas o resultado é a longo prazo. “No curto e médio prazo, é preciso investir em inovação para minimizar o problema da falta de mão de obra. Fazer mais e melhor com menos pessoas exige tecnologia.”

Para o presidente da Fieg, Sandro Mabel, uma grande característica que a SSA possui é o investimento em treinamento, mas que ainda não é um exemplo seguido por muitas indústrias instaladas no Estado, o que prejudica um maior desenvolvimento da mão de obra local.

“Precisamos dessa mobilização do setor e a Fieg tem capacidade de investimento para trabalhar projetos nesse sentido em parceria com a indústria. Só neste ano, estamos treinando 20 mil pessoas em TI e nossa meta é formar cerca de 100 mil profissionais da área nos próximos anos para a indústria 4.0. Nossa disposição é atender nossos acionistas”, afirmou, reforçando que a Fieg, por meio do Sesi, Senai e IEL, está à disposição para criar soluções que facilitem o crescimento das empresas.

De acordo com Sandro Mabel, nos últimos três anos as instituições do Sistema Indústria têm “transformado despesas em investimentos”, gerando caixa para direcionar para educação de jovens e qualificação de profissionais para o setor. “Estamos com meio bilhão para avançar em áreas estratégicas ao crescimento da indústria goiana.”

ENERGIA E INDUSTRIALIZAÇÃO –Outros dois pontos sensíveis destacados por Zé Garrote, também presidente do Conselho da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial), foram a questão energética e a falta de uma consistente política pública de incentivo à industrialização. “Temos um déficit muito grande de energia no Estado. Nosso crescimento não condiz com a disponibilidade do insumo”, assegurou o empresário, ao falar sobre ações encampadas pela SSA para superar esse desafio.

Nesse sentido, a empresa tem promovido investimentos milionários em sustentabilidade energética, inclusive para suprir demanda pelo insumo por cooperados e na distribuição. “Nossa meta é colocar 100% dos aviários com energia solar e já estamos virando nossa atenção para logística com caminhões elétricos, com projeto-piloto em Brasília”.

Quanto às políticas de incentivo à industrialização, o empresário foi taxativo. “O sucesso dos países desenvolvidos está intimamente ligado ao desenvolvimento de uma indústria forte. O Brasil ainda não entendeu isso. Precisamos industrializar, criando meios para isso! Nossas dificuldades são imensas, mas não são intransponíveis”, disse.

A opinião foi compartilhada pelo presidente da Fieg, Sandro Mabel, que reiterou bandeira de agregar valor à produção goiana. “Temos a matéria-prima, mas incentivamos a exportação ao invés da industrialização. Precisamos mudar essa visão. A exportação não gera arrecadação, não melhora a vida das pessoas e nem promove o desenvolvimento do País. A Fieg tem batido nessa tecla durante toda minha gestão.”

Sandro Mabel destacou ainda o estudo que vem sendo construído pelo CTA-Fieg, com apoio do Sebrae e execução da Universidade Federal de Goiás (UFG), justamente para mapear oito segmentos estratégicos do agronegócio, objetivando fortalecer toda a cadeia produtiva, do campo à mesa dos consumidores. “Estamos mapeando toda a cadeia do agro voltada à indústria. É um amplo estudo, que vai não só identificar os gargalos, mas apontar soluções e oportunidades para o setor.”

O presidente do CTA, Marduk Duarte, que mediou o encontro com empresários, reforçou a fala do líder da Fieg e a disposição do colegiado na proposição de soluções para o setor, inclusive atuando como propositor de políticas públicas de curto e médio prazo que promovam o crescimento da agroindústria.

“Paralelamente ao estudo, encampamos várias ações por meio de nossas câmaras setoriais das cadeias produtivas”, explicou, citando como exemplo o trabalho que vem sendo desenvolvido em parceria com o Sindicato dos Moinhos de Trigo da Região Centro-Oeste (Sindtrigo) para aumento da área plantada com vistas ao incremento da produção de farinha de trigo. “Queremos exportar o produto final, e não o trigo. Nossas indústrias têm toda capacidade para isso.”

ESTUDO DAS CADEIAS PRODUTIVAS –A reunião do CTA contou ainda com participação do professor Adriano Figueiredo, que expôs resultados preliminares da análise do fluxo comercial de Goiás, no âmbito do Estudo das Cadeias Produtivas no Estado de Goiás. Na oportunidade, foram apresentados indicadores comerciais de troca e intensidade, com apontamento de oportunidades, sobretudo nos setores farmoquímico, petroquímico e de nutracêuticos.

Na avaliação de Figueiredo, o estudo mostra potencial para salto em diversos setores. “A participação do agronegócio na indústria é muito nítida, mas é preciso ir mais à frente e somar todos os elos. Precisa sair da visão compartimentada do agro e pensar mais em negócios”, concluiu.

A reunião do CTA contou com participação do vice-presidente da Fieg André Rocha; dos presidentes de sindicatos das indústrias Antônio Santos (Siaeg), Jaques Silvério (Sincafé), Jerry Alexandre (Siago) e Sérgio Scodro (Sindtrigo); e do presidente da Câmara da Indústria da Construção (CIC), Sarkis Curi.